A esterilização não é ir contra o natural e uma violação dos direitos dos animais?

O natural seria não termos animais de companhia. Os animais de companhia foram seleccionados pelos humanos para terem as características que têm hoje em dia e dependem de nós para sobreviver. Depois de termos trazido ao mundo milhares de cães e gatos que ninguém quer, é demasiado tarde para dizer que a natureza deve seguir o seu curso natural. Já interferimos demasiado e, agora, é nossa obrigação interferir para minorar o sofrimento deles e o sofrimento de gerações futuras.

Se os animais de companhia pudessem escolher, não é provável que escolhessem ser esterilizados. A ida ao veterinário, a estadia e a recuperação pós-cirurgia não são certamente experiências muito agradáveis. Contudo, os humanos têm um dever especial de cuidado para com os animais de companhia, tal como os pais têm um dever especial de cuidado pelos filhos — que pode implicar ir contra a vontade da criança para salvaguardar a sua saúde e segurança.

Nos casos em que a esterilização apresenta vantagens significativas para a saúde do animal, a justificação para a esterilização é óbvia: é no próprio interesse do animal ser saudável e viver mais tempo. Nos restantes casos, a justificação moral passa por perceber que a não-esterilização é um mal. Ou seja, se esterilizar é um inconveniente para o animal esterilizado, não esterilizar é um inconveniente muito maior para vários animais.

Ao nível de uma familía, se não esterilizarmos os animais e eles se reproduzirem, chegaremos rapidamente a um ponto em que não conseguimos cuidar condignamente quer dos filhotes quer dos pais. Como tal, a esterilização é do interesse de todos.

Ao nível da comunidade, se não esterilizarmos os animais e trouxermos mais animais ao mundo sem possibilidade de ter uma família que deles cuide condignamente, estamos a trazer ao mundo animais condenados a uma vida de sofrimento. Por outro lado, admitindo que os filhotes são uns grandes sortudos e todos conseguem uma boa familía, estamos a contribuir para privar de uma oportunidade de adopção os animais de companhia que já vivem na rua, em albergues ou em canis/gatis municipais.

Se a esterilização é um inconveniente para o animal esterilizado e, considerada isoladamente, poderia ser contrária ao respeito pelos direitos dos animais, a verdade é que a não-esterilização tem, potencialmente, consequências muito mais negativas. Na prática, ou escolhemos sujeitar um animal a um inconveniente ou escolhemos ser coniventes com a vida de sofrimento dos animais sem família. É fácil ver qual é a opção que defende os direitos dos animais.